segunda-feira, 7 de março de 2011

Apostilas

Desde 2008, alguns professores da escola Benjamin Constant adotaram o trabalho com apostilas. Inicialmente, o material escolhido foi o Caderno do Futuro da editora IBEP. O valor de cada apostila (R$ 13,90) foi arrecadado por meio da venda de rifas. Neste ano de 2011, para a disciplina de Língua Portuguesa, elaborei um material que traz os conteúdos em conformidade com o plano de trabalho e com as particularidades da escola rural, pois o Caderno do Futuro, como muitos livros didáticos, deixava algumas lacunas em relação a isso.
O custo (xérox, encadernação) seria de R$ 10,00, mas, felizmente, a Secretaria Municipal de Educação patrocinou as reproduções, que por sinal foram impressas com excelente qualidade, deixando o material bem legível, com bom acabamento. Além das explanações sobre os conteúdos, a apostila traz exercícios variados e procura construir o conhecimento baseando-se no método da descoberta. Ela induz o aluno a pensar. Certamente se podem buscar complementos, inclusive do livro didático.  
A princípio, os pais demonstraram preocupação a respeito da escrita, questionando se ela não ficaria de fora. Mas as apostilas vêm oportunizando que se trabalhe ainda mais essa parte e que se vá além dela. O aluno economiza o tempo que perderia com a cópia da parte teórica e aplica nas discussões sobre a matéria e, no caso do Português, a mera cópia dá lugar às redações, leituras e interpretações de texto, seminários, etc. A cópia mecanizada, em que muitas vezes o aluno não lê realmente, ou seja, não entende a ideia global do texto ou dos enunciados, só ajuda a criar um número cada vez maior de analfabetos funcionais. Além disso, é uma tortura para os estudantes.
Apesar de ser feita a exploração oral do que foi registrado – se é que sobra tempo – sabemos que o aluno não acompanha essa etapa com entusiasmo, pois perdera o interesse no momento em que viu o quadro se encher de lição e sentiu seu braço doendo...
Já vi muitos professores que contestam, afirmando que a cópia é necessária para o treino gráfico, caligráfico e para desenvolver habilidades como a coordenação, a organização. Concordo, e digo ainda que a letra do aluno é parte de sua identidade. Porém, há tantas outras maneiras bem mais atrativas de se trabalhar isso.        
Uma reportagem publicada pela revista Nova Escola, em novembro de 2009, revelou que, até em Cuba, onde um professor ganha o equivalente a R$ 50,00 por mês, a educação é considerada melhor que a do nosso país. Um dos fatores apontados, segundo a revista, é que, no Brasil, os professores gastam muito tempo com a cópia e deixam pouco espaço para debater e sanar dúvidas entre os alunos.    
Sabemos que a educação por aqui, de modo geral, ainda está longe de ser um exemplo. Mas  é de praxe ouvirmos alguém nos dizer “O professor deve se atualizar. Estamos na era digital, na era da tecnologia...”, enquanto na prática docente, permanecemos tão apegados às aulas tradicionais, com quadro e giz. 

Profª. Luana Batisti